Satisfações Contemporâneas
Este ensaio partiu do tema “conservadorismo e retrocesso no Brasil”. O título escolhido não foi por mero acaso. Na verdade, ele abriga em si as subjetividades implícitas na narrativa. Satisfações no plural por encontrarmos literalmente uma dupla conotação da palavra. “Satisfações” no sentido de desejo, mas também no sentido de dar satisfação a alguém, neste caso à uma sociedade que julga e estabelece certos comportamentos como sendo corretos. A série é repleta de simbologias e foi concebida com poucas imagens fazendo um contraponto com um tempo de excessos. Excesso de passado no presente representado pela escolha estética da cor, de um telefone antigo que traz as notícias que não são ditas face a face, e de um copo de leite que faz alusão a um escandaloso período de repressão ditatorial. Excesso de poder, excesso de medo que faz a personagem feminina transitar pelo lugar da submissão e da ausência de sentimentos. Excesso de desejos reprimidos e de um futuro ameaçado por uma bolha desvairada de indivíduos que se apoia numa crença cega e construída com propósitos indecorosos. Olhares cheios de palavras não ditas. Alguns corpos que se tocam, outros que se mantem distantes. Protocolos cumpridos na ânsia de maquiar a verdade e manter o que dita a lei. Mas que lei é essa? Quem ditou? Nesta narrativa fica a ideia da covardia embutida no conveniente e falso amor de folhetim ilustrado pela presença noiva, personagem que é posta numa história em um posto tão ignorado que é quase um objeto em cena, objeto registrado em cartório para ocultar “outras satisfações”. De todos estes insultos e moléstias que a sociedade contemporânea produz, ilustra-se ainda o retrocesso causado pela fé manipulada interferindo no estado. Esta série, portanto, é um grito de alerta para a necessidade da interrupção do próximo passo em direção ao vil controle da liberdade individual e coletiva.